Por Marliese Godoflite*
O envelhecimento foi tema da última redação do ENEM, o que mostra a importância de olharmos para esta realidade. É uma fase natural, com ritmos e tempos muito particulares. O envelhecimento da população é um fenômeno global. Segundo o IBGE, a expectativa de vida no Brasil em 2023 foi de 76,4 anos. As mulheres têm uma expectativa de vida de 79,7 anos, enquanto os homens alcançam 73,1 anos; o Censo 2022 aponta que há 14,4 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, representando 7,3% da população com dois anos ou mais. A incidência de deficiência é maior entre os idosos, especialmente na faixa etária de 70 anos ou mais, que apresenta 27,5% de pessoas com deficiência. Frente a isto, quais ações vêm sendo desenvolvidas para promover um envelhecimento ativo e com qualidade de vida para as pessoas com deficiência? Consideramos aqui, a dupla vulnerabilidade enfrentada por essas pessoas.
A inclusão das pessoas com deficiência no contexto sociocultural é um processo complexo que envolve uma série de desafios e oportunidades. No contexto sociocultural, a inclusão de pessoas com deficiência requer não apenas mudanças estruturais, como acessibilidade física e legislação antidiscriminatória, mas também uma transformação nos valores, atitudes e percepções da sociedade. A partir de suas memórias, as pessoas com deficiência se percebem como membros plenos e contribuintes da comunidade.
Um aspecto importante de observarmos é que os indivíduos mais velhos, ao vivenciarem perdas naturais com o envelhecimento, são capazes de experienciar ganhos. Através do controle cognitivo e do bem-estar emocional, os adultos mais velhos parecem utilizar melhores estratégias regulando seus conflitos e emoções de maneira mais eficaz do que os jovens.
Através da seletividade socioemocional, os adultos mais velhos tendem a intensificar os relacionamentos gratificantes do passado, enquanto os relacionamentos conflitivos ou ambíguos são evitados. Na teoria do envelhecimento bem-sucedido, foi desenvolvido um modelo de seleção, otimização com compensação (SOC).
Ao avaliar a pessoa com deficiência intelectual em processo de envelhecimento é necessário considerar alguns aspectos como: contextos em que está inserida, faixa etária, diversidade linguística, cultural, além dos fatores comunicativos, sensoriais e motores e limitações que coexistem com as capacidades. As limitações são identificadas objetivando a oferta de apoios necessários; os apoios têm efeito positivo no desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual, considerando sua aplicação, intensidade e duração necessários.
Algumas ações que já estão sendo desenvolvidas em nossas APAES do RS para as pessoas com deficiência em processo de envelhecimento e idosas, são: ações para promover o bem-estar sobre o tema do envelhecimento da pessoa com deficiência; bocha adaptada, exercícios leves, projetos de horta, culinária, que estimulam a autonomia e a convivência. Oficinas de músicas, utilizando músicas conhecidas para estimular a memória, a expressão emocional e o bem-estar. O uso de instrumentos e cantigas populares pode fortalecer vínculos afetivos e despertar lembranças positivas. Também, atividades como Pilates, hidroterapia. Além de grupos de convivência com apoio da equipe interdisciplinar, promovendo integração, escuta e cuidado. Essas ações são pensadas para auxiliar no envelhecimento bem sucedido, ativo, com qualidade de vida e respeito.
Garantir ações de políticas públicas, cidades sustentáveis e inclusivas é pensar em mecanismos que garantam espaços de fala para todas as pessoas durante o desenvolvimento ao longo da vida. Envelhecer é um tema que precisamos pensar e enfrentar, para que a promoção do protagonismo das pessoas com deficiência no processo de envelhecimento aconteça verdadeiramente.
É uma necessidade ver a pessoa com deficiência intelectual como sujeito de direito, que pode falar de si e ressignificar os espaços para que todas as pessoas tenham vez e suas vozes sejam escutadas.
* A autora é Fonoaudióloga clínica e educacional, Psicopedagoga clínica e institucional, Diretora da Apae Ivoti e Coordenadora Estadual de Envelhecimento da Federação das Apaes do Rio Grande do Sul.
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